“Ao romper do feliz e sempre memorável dia 7 de março, fizeram-se
os sinais anunciando a chegada da real esquadra. Toda a cidade [do Rio de Janeiro], expressando o maior e mais vivo contentamento,
logo se pôs em alvoroço, movimento e confusão. Suspenderam-se todos os trabalhos , tanto públicos como particulares, fecharam-se
quase todas as lojas e tendas, e grande parte das casas ficaram despovoadas de seus moradores. Muitos correram para locais
elevados de onde se avistava a barra, outros procuraram as praias, alguns buscaram embarcações para sair ao mar ao encontro
de seu príncipe e senhor, os soldados corriam para os seus quartéis.
Logo que a esquadra foi se aproximando da barra, todos os navios
de guerra portugueses e ingleses ancorados nesta formosa baía, enfeitados com mil bandeiras e bandeirolas de cores diversas,
assim como as fortalezas, dispararam uma salva de vinte e um tiros. Os estrondosos ecos rapidamente iam anunciando pelo vasto
recôncavo deste porto até a serra dos Órgãos a real presença dos nossos soberanos. Ao som destas estrondosas salvas e dos
alegres repiques dos sinos das igrejas, os ânimos de todos mais se inflamavam e como loucos corriam pelas ruas homens, mulheres,
velhos e meninos ansiosos de ver a brilhante entrada da esquadra rel de aplaudir o Príncipe Regente e sua família.(...)
Logo que o Príncipe Regerente Nosso Senhor pôs os pés em terra, centenas
de fogos subiram ao mesmo tempo ao ar: rompeu imediatamente um clamor de vivas e aplausos que, misturados aos alegres repiques
dos sinos, aos sons dos tambores e dos instrumentos dos músicos e ao estouro das salvas e dos foguetes, faziam uma estrondosa
confusão tão magnifíca, majestosa e arrebatadora que parecia coisa sobrenatural e maravilhosa.
Que cena poderia haver para os brasileiros mais nova, mais bela,
mais sublime e mais comovente que verem, pisando as ruas do Rio de Janeiro com toda sua real família, o seu soberano, um príncipe
tão poderoso e senhor de um Império imenso nas quatro partes do mundo? Rodeavam
a Sua Alteza Real os grandes do reino, oficiais-mores da sua real Casa, camaristas e nobreza; era seguido de um numeroso cortejo
de padres e membros da Igreja, militares, oficiais da marinha portuguesa e britânica, como também de outras muitas pessoas,
que de Lisboa tinham vindo em sua companhia.
Todo o caminho por onde havia de passar o Príncipe Regente Nosso
Senhor estava coberto de fina e branca areia, folhas, ervas odoríferas e flores; as portas das casas foram enfeitadas de tecidos
de seda vermelha e das janelas pendiam ricas e vistosas tapeçarias de lindas e variadas cores. Toda essa reação era realçada
pelo grande número de senhoras que, vestidas e penteadas com maior cuidado e riqueza, embelezaram-se tornando ainda mais brilhante
e pomposa a magnífica e triunfal entrada de Sua Alteza Real, o Príncipe Regente Nosso Senhor.”