(- Atenção pra chamada! Aderbal:
Presente! Aninha: Eu! Breno: Aqui! Carol: Presente! Douglas: Alô! Fernandinha: Tô Aqui! Geraldo: Ahhhhh! Itamarzinho: Faltou!
Juquinha...)
Eu tô aqui. Pra quê? Será que é pra
aprender? Ou será que é pra aceitar, me acomodar e obedecer?
Tô tentando passar de ano pro meu
pai não me bater. Sem recreio de saco cheio porque eu não fiz o dever.
A professora já tá de marcação porque
sempre me pega disfarçando,
espiando e colando toda a prova dos
colegas.
E ela esfrega na minha cara um zero
bem redondo. E quando chega o boletim lá em casa eu me escondo.
Eu quero jogar botão, vídeo game,
bola de gude. Mas meus pais só querem que eu "vá pra aula!" e estude!"
Então dessa vez eu vou estudar até
decorar “cumpádi”.
Pra me dar bem e minha mãe deixar
eu ficar acordado até mais tarde.
Ou quem sabe aumentar minha mesada
pra eu comprar mais revistinha (do Cascão?). Não. De mulher pelada.
A diversão é limitada e o meu pai
não tem tempo pra nada.
E a entrada no cinema é censurada
(vai pra casa pirralhada!)
A rua é perigosa então eu vejo televisão
(Tá lá mais um corpo estendido no chão)
Na hora do jornal eu desligo porque
eu nem sei o que é inflação (Ué, num te ensinaram?) Não!
A maioria das matérias que eles dão
eu acho inútil. Em vão, pouco interessantes, eu fico pu...
Tô cansado de estudar, de madrugar,
que sacrilégio (Vai pro colégio!!)
Então eu fui relendo tudo até a prova
começar. Voltei, louco pra contar:
Manhê! Tirei um dez na prova. Me
dei bem, tirei um cem e eu quero ver quem me reprova.
Decorei toda a lição, não errei nenhuma
questão, não aprendi nada de bom, mas tirei dez (boa filhão!)
Quase tudo que aprendi, amanhã eu
já esqueci. Decorei, copiei, memorizei, mas não entendi.
Decoreba: esse é o método de ensino.
Eles me tratam como ameba e assim eu num raciocino.
Não aprendo as causas e as conseqüências.
Só decoro os fatos. Desse jeito até História fica chato.
Mas os velhos me disseram que o "porque"
é o segredo. Então quando eu num entendo nada, eu levanto o dedo. Porque eu quero usar a minha mente pra ficar inteligente.
Eu sei que ainda num sou gente grande, mas eu já sou gente.
E sei que o estudo é uma coisa boa.
O problema é que sem motivação a gente enjoa.
O sistema bota um monte de abobrinha
no programa.
Mas pra aprender a ser um “igonorante”.
Ah, um ignorante, por mim eu nem saía da minha cama.
(Ah! Deixa eu dormir)
Eu gosto dos professores e eu preciso
de um mestre, mas eu prefiro que eles me ensinem alguma coisa que preste.
O que é corrupção? Pra que serve
um deputado? Não me diga que o Brasil foi descoberto por acaso!
Ou que a minhoca é hermafrodita!
Ou sobre a tênia solitária! Não me faça decorar as capitanias hereditárias!!
(- Alô! Alô! Que que vai cair na
prova de amanhã. Quadrado da hipotenusa, cromossomos, tabela periódica .....)
Vamos fugir dessa jaula! "Hoje eu
tô feliz" (matou o presidente?) Não. A aula! Matei a aula porque num dava.
Eu não agüentava mais, e fui escutar
o Pensador escondido dos meus pais.
Mas se eles fossem da minha idade
eles entenderiam (Esse num é o valor que um aluno merecia!)
Iiiih... Sujô! (Hein?) O inspetor!
(Acabou a farra, já pra sala do coordenador)
Achei que ia ser suspenso, mas era
só pra conversar. E me disseram que a escola era o meu segundo lar.
E é verdade. Eu aprendo muita coisa
realmente.
Faço amigos, conheço gente, mas não
quero estudar pra sempre!
Então eu vou passar de ano. Não tenho
outra saída. Mas o ideal é que a escola me prepare pra vida
discutindo e ensinando os problemas
atuais, e não dando as mesmas aulas que eles deram pros meus pais,
com matérias das quais eles não lembram
mais nada. E quando eu tiro dez é sempre a mesma palhaçada
Encarem as crianças com mais seriedade
pois na escola é onde formamos a nossa personalidade
Vocês tratam a educação como um negócio
onde a ganância, a exploração e a indiferença são os sócios.
Quem devia lucrar só é prejudicado.
Assim cês vão criar uma geração de revoltados
Tá tudo errado e eu já tô de saco
cheio. Agora me dá minha bola e deixa eu ir embora pro recreio.
- Juquinha! Tá falando demais. Assim
eu vou que te deixar sem recreio!
- Mas é só a verdade “fessora”.
- Eu sei, mas colabora. Senão eu perco
meu emprego!